Dei a mão pra Duda pra atravessar a rua e disse "vamos logo que a gente não pode brincar no meio da rua que é perigoso". No segundo que terminei de falar pensei na Cissa Guimarães e nas notícias que li mais cedo sobre o falecimento do seu filho. Ela deve ter dito isso para os filhos. Toda mãe diz. Ensinamos as crianças a olhar para os dois lados antes de atravessar. Explicamos os perigos do trânsito e deixamos claro que é preciso estar atento a tudo que acontece ao redor, já que a segurança não depende apenas da gente.
Fiquei pensando no paradoxo que é para uma mãe que tanto ensinou e alertou ter um filho atropelado. Não estou dizendo que a culpa é dele, mas acredito que seja quase impossível não pensar "onde foi que eu errei?". Como mãe posso imaginar a dor que esssa perda causa e sei o quão difícil é expressar em palavras. Assim como o amor pelos filhos é inexplicável, perdê-los também é. Vai contra a ordem natural das coisas.
Em um momento "de mãe para mãe", impossível não lembrar da minha que sempre disse que o carro é uma arma. Ela que me perdoe a correção, mas acho que o carro é uma arma em potencial, depende de quem o tem nas mãos. Perdi um amigo há quatro anos em um terrível acidente de carro. Sabia da irresponsabilidade dele ao volante e sempre soube que ele morreria disso. Só que ele não foi sozinho, levou junto a namorada. Este ano conheci casualmente o pai dele na parada de ônibus. Depois de alguns minutos de conversa percebi que havia dedo dele no que tinha acontecido. Ele me disse que não queria ter dado o Chevete, mas o guri tinha insistido e gostava tanto que acabou cedendo, achava bonito ver o carro turbinado... Nessa situação meu amigo levou um inocente. O que matou o filho da Cissa Guimarães ficou, mas tirou daqui um inocente.
Não sei se eles faziam um racha. Não sei se estavam apenas fazendo uma conversão. Não sei se havia pouca sinalização. Mas alguém que não tinha nada a ver com tudo perdeu a vida. Foi irresponsabilidade e isso é claro. E, na grande maioria dos casos, a irresponsabilidade vem de casa. Vem da falta de pulso dos pais, de tolerar o "jeitinho", de passar sempre a mão na cabeça dos filhos, por ser mais fácil deixar a vida criar do que se incomodar com a educação dos filhos. Não estou julgando os pais dos rapazes, mas uma mãe que ensinou seu filho, se preocupou vai dormir com um pedaço a menos e um vazio que nunca mais vai ser preenchido. Espero que sirva de alerta para os pais que lavam as mãos após os filhos fazerem certa idade. Ser pai é para toda a vida e nunca se para de ensinar.
À Cissa Guimarães, minhas humildes condolências.
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